Na Luz do Deserto, acreditamos que fotografar é mais do que registar o mundo — é aprender a vê-lo. Aprender a parar. A escutar o que está antes da imagem.
Tal como no Budismo, onde o jejum não é um fim, mas um meio de clarificação interior, também na fotografia procuramos esse mesmo espaço de silêncio, onde o olhar se refina e a intenção se depura. O Buda rejeitou o jejum extremo, mas também a indulgência desmedida. Escolheu o Caminho do Meio — e esse é, também, o caminho da imagem que nos importa.
Num tempo dominado pelo excesso — de ruído visual, de filtros, de registos sem alma — propomos outro modo de estar: a estética da renúncia. A câmara, como extensão do olhar interior, aprende a esperar. A não capturar tudo. A deixar passar.
Fotografar pode ser um acto de contenção, como o jejum moderado praticado por certos monges, que se alimentam apenas antes do meio-dia. O essencial basta. Uma imagem basta. Um momento de luz contido entre sombras pode ser mais revelador do que um portefólio inteiro.
Na nossa escola, esta ideia manifesta-se na forma como ensinamos, como acolhemos, como propomos. Trabalhamos a fotografia como prática de atenção, de escuta, de presença. Não se trata de produzir imagens — mas de encontrar imagens. E, por vezes, de as deixar ir.
Porque, como no jejum, há beleza no intervalo.
Há sabedoria na pausa.
E há verdade no que não se mostra.